A história da mulher que fugiu a cavalo, publicada em livro no ano 1928,
surgia na literatura como visão gélida da aventura da mulher branca
entre homens de pele escura e expostos ao seu olhar num cúmulo de
exuberância física. A mulher branca iria desta vez enfrentá-los com uma
absoluta indiferença pelo seu atractivo sexual; e, pelo seu lado,
sentir-se-ia apenas vista como objecto assexuado entre homens
faustosamente dotados para as relações físicas. A mulher que fugiu a cavalo vê-se entre índios que a elegem como sua
mensageira solar. Fugida do tédio do casamento para uma aventura que
começara envolta «num tolo romantismo, ainda mais irreal do que o
existente nas raparigas », acedia à híper lucidez conferida pelas drogas
e, com ela, à complacência perante o seu destino de vítima oferecida a
um supremo poder. Porque aqueles índios viviam uma má época da sua
história, roubados pelo homem branco no que tinha sido um seu ancestral
poder. Dizia-lhes uma crença que a grande força geradora seria obtida
com o encontro astronómico do sol e da lua; e que em esplendorosos
tempos esta impossível conjunção celeste era indirectamente obtida
descendo o sol até ao homem índio, descendo a lua até à mulher índia,
para no seu encontro físico e terrestre se multiplicar o Poder. A
aparição do homem branco tinha feito o sol e a lua zangarem-se, tornando
os encontros físicos do homem índio e da mulher índia estéreis quanto a
essa força vital. Mas bastaria o índio mostrar-se capaz de dominar o
homem branco, oferecendo a sua mulher ao Sol, para o astro supremo
voltar a penetrar no homem índio, a lua voltar a entrar na mulher índia,
e a sua conjugação restituir-lhes a força perdida. Para cenário desta
oferenda D.H. Lawrence (Nottingham, 1885 - Vence, 1930) lembrou- se de
uma gruta que visitou num dos seus passeios a cavalo nos arredores de
Taos, a região dos índios adoradores do sol; que o tinha impressionado
pela cascata à frente da entrada, e que formava durante o Inverno uma
gigantesca estalactite de gelo suspensa como um dardo sobrenatural. A.F.
Sinopse
A mulher que fugiu a cavalo vê-se entre índios que a elegem como sua mensageira solar. Fugida do tédio do casamento para uma aventura que começara envolta «num tolo romantismo, ainda mais irreal do que o existente nas raparigas », acedia à híper lucidez conferida pelas drogas e, com ela, à complacência perante o seu destino de vítima oferecida a um supremo poder. Porque aqueles índios viviam uma má época da sua história, roubados pelo homem branco no que tinha sido um seu ancestral poder. Dizia-lhes uma crença que a grande força geradora seria obtida com o encontro astronómico do sol e da lua; e que em esplendorosos tempos esta impossível conjunção celeste era indirectamente obtida descendo o sol até ao homem índio, descendo a lua até à mulher índia, para no seu encontro físico e terrestre se multiplicar o Poder. A aparição do homem branco tinha feito o sol e a lua zangarem-se, tornando os encontros físicos do homem índio e da mulher índia estéreis quanto a essa força vital. Mas bastaria o índio mostrar-se capaz de dominar o homem branco, oferecendo a sua mulher ao Sol, para o astro supremo voltar a penetrar no homem índio, a lua voltar a entrar na mulher índia, e a sua conjugação restituir-lhes a força perdida. Para cenário desta oferenda D.H. Lawrence (Nottingham, 1885 - Vence, 1930) lembrou- se de uma gruta que visitou num dos seus passeios a cavalo nos arredores de Taos, a região dos índios adoradores do sol; que o tinha impressionado pela cascata à frente da entrada, e que formava durante o Inverno uma gigantesca estalactite de gelo suspensa como um dardo sobrenatural.
A.F.
Ficha Técnica