No capítulo final de Os Papéis de K. é possível ler o press release de uma editora acerca de um livro intitulado… Os Papéis de K. Aí é dito que esse Os Papéis de K. (da autoria de um escritor israelita chamado Amir Zach) tem por tema a tragédia do destino individual face ao absurdo e à desmesura da morte”.Talvez seja também esse o tema deste Os Papéis de K. de Manuel António Pina. E o da memória – a memória dos personagens e a memória da própria literatura. Porque, como na ficção de Henry James, os indivíduos são aqui determinados pelo universo da escrita e da ficção e não determinantes dele. O livro, a primeira obra de ficção de Manuel António Pina, é a inquietante história de uma história, contada através das estranhezas e mistificações da memória por alguém que a terá ouvido de outrem que, por sua vez, a terá lido no indeciso manuscrito de um personagem ausente e furtivo. Tendo como pano de fundo o xintô, ou a via dos deuses”, a religião-matriz da cultura japonesa, Os Papéis de K. é uma narrativa de coincidências: de trajectórias e de sentidos que se entrecruzam para dar à luz algo maior, que ultrapassa os seus intervenientes.K., o personagem ausente, é o protótipo do homem desenraizado, exilado, estrangeiro de si em demanda de uma origem. Talvez porque a distância e/ou o movimento inerentes à condição de estrangeiro evoquem a alternância de (ou entre) espaços e tempos, sejam mais salientes, no desterrado, as marcas da fatalidade, da predestinação, da intervenção de uma providência”.O clímax da trama histórica / cósmica de Os Papéis de K. parece ser a hipótese de a bomba atómica de Nagasaki ter cumprido apenas o inominável propósito de matar uma menina de nove anos. Uma belíssima e comovedora versão da teoria do caos: se uma menina bater as asas algures no Oceano Pacífico...
Sinopse
No capítulo final de Os Papéis de K. é possível ler o press release de uma editora acerca de um livro intitulado… Os Papéis de K. Aí é dito que esse Os Papéis de K. (da autoria de um escritor israelita chamado Amir Zach) tem por tema a tragédia do destino individual face ao absurdo e à desmesura da morte”.Talvez seja também esse o tema deste Os Papéis de K. de Manuel António Pina. E o da memória – a memória dos personagens e a memória da própria literatura. Porque, como na ficção de Henry James, os indivíduos são aqui determinados pelo universo da escrita e da ficção e não determinantes dele. O livro, a primeira obra de ficção de Manuel António Pina, é a inquietante história de uma história, contada através das estranhezas e mistificações da memória por alguém que a terá ouvido de outrem que, por sua vez, a terá lido no indeciso manuscrito de um personagem ausente e furtivo. Tendo como pano de fundo o xintô, ou a via dos deuses”, a religião-matriz da cultura japonesa, Os Papéis de K. é uma narrativa de coincidências: de trajectórias e de sentidos que se entrecruzam para dar à luz algo maior, que ultrapassa os seus intervenientes.K., o personagem ausente, é o protótipo do homem desenraizado, exilado, estrangeiro de si em demanda de uma origem. Talvez porque a distância e/ou o movimento inerentes à condição de estrangeiro evoquem a alternância de (ou entre) espaços e tempos, sejam mais salientes, no desterrado, as marcas da fatalidade, da predestinação, da intervenção de uma providência”.O clímax da trama histórica / cósmica de Os Papéis de K. parece ser a hipótese de a bomba atómica de Nagasaki ter cumprido apenas o inominável propósito de matar uma menina de nove anos. Uma belíssima e comovedora versão da teoria do caos: se uma menina bater as asas algures no Oceano Pacífico...Ficha Técnica